Especialistas alertam para importância de ação combinada entre cirurgia e reabilitação
Possibilitar o retorno do paciente às atividades diárias e ao mercado de trabalho, com qualidade de vida, é uma das maiores preocupações dos terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas especializados na reabilitação da mão.
Reunidos em Porto Alegre (RS), em um congresso organizado pela Sociedade Brasileira de Terapeutas da Mão e do Membro Superior (SBTM), eles discutiram os avanços na área e a abordagem das técnicas usadas na correção de deficiências da mão. Uma das palestrantes convidadas, a sul-africana Corrianne Van Velze, esteve em Belo Horizonte para trocar experiências com especialistas mineiros e conhecer o trabalho desenvolvido no Brasil.
Para Corrianne, professora de terapia de mão na Universidade da Pretória, na África do Sul, a combinação entre as terapias existentes e o esforço pessoal de cada paciente é a única forma de fazer com que ele adquira a qualidade de vida perdida com o impacto de uma lesão na mão. “Muitas pessoas só passam a perceber a importância de um membro como a mão a partir do momento que sofrem um acidente ou algo similar. As mãos não somente servem para pegar as coisas, comer, escovar os cabelos ou os dentes. Fazem parte de nossas emoções, de nossa expressão como seres humanos.”
A especialista destaca que um dano na mão pode trazer conseqüências desastrosas tanto em termos funcionais, ao desabilitar um funcionário de uma empresa em seu trabalho diário, como no que diz respeito aos aspectos psicológicos. “Uma lesão na mão, dependendo da gravidade, pode danificar pele, ossos, músculos, nervos, veias e artérias. Um corte profundo, por exemplo, pode comprometer todo o funcionamento da articulação e não é somente costurar o ferimento”, comenta.
O procedimento cirúrgico, inclusive, representa apenas 10% de todo o trabalho dos especialistas. O restante – cerca de 90% – está relacionado à terapia de reabilitação. E é aí que entra o importante trabalho de terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.
A fisioterapia pode durar até seis meses, nos casos de esmagamento ou comprometimento grave da mão. “Nosso objetivo é tornar a mão funcional novamente”, explica Corrianne.
Entre as técnicas mais usadas na reabilitação, estão as órteses, equipamentos próprios que trabalham a funcionalidade da mão; exercícios de alongamento desenvolvidos por especialistas, que, posteriormente, são feitos em casa, pelo paciente; jogos, materiais cilíndricos, sisal e peças de madeira; e o acompanhamento multidisciplinar de médicos e psicólogos. “No caso de crianças, tentamos relacionar o treinamento à prática cotidiana da escola. E para os adultos aplicamos técnicas condizentes ao dia-a-dia no trabalho.”
Funcional
Patrícia Barroso, terapeuta ocupacional e presidente da SBTM, é especialista em mão e doutora em bioengenharia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como parte de seu mestrado, desenvolveu uma órtese abdutora de polegar, ou seja, que contribui para a abertura (mobilidade) do dedão. Feita de termoplástico e neoprene, mesmo material usado em uniformes de mergulhador, ela é confeccionada no formato específico da mão de cada paciente.
O diferencial da órtese, feita no Laboratório de Bioengenharia do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, é que ela se adapta a angulação funcional do polegar, sem prejuízos à circulação sangüínea da mão. “Muitos pacientes usam a órtese de dia ou dormem com ela à noite e os resultados têm sido muito positivos no retorno do paciente às atividades diárias”, acrescenta.
No caso do Brasil, Patrícia ressalta que, vivendo em um país tropical, o brasileiro não está habituado ao uso de luvas e, por isso, as lesões de mão muitas vezes não passam despercebidas. “As mãos e o rosto são nossos cartões de visita, nossa porta de entrada para as relações sociais. O tratamento das grandes deformidades é mais complexo, em parte, pelo impacto social que uma lesão provoca.”
Entre as causas mais comuns de danos à mão, estão quedas convencionais e, em homens, o tradicional jogo de futebol. “Muitos lesam cotovelos, mas fraturas de punho são mais freqüentes. O que ocorre é que os atletas acabam espalmando a mão ao cair, transformando o punho em um alvo vulnerável pela velocidade de queda do corpo.”
Atualmente, a SBTM tem 120 sócios espalhados pelas cinco regiões do país e os congressos brasileiros ocorrem em intervalos de dois anos. A grande batalha dos profissionais da área agora é a aceitação, por parte do Ministério do Trabalho e por outros órgãos, da especialidade, embora os cursos de especialização já sejam reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC).
Maiores causas de lesões:
• Traumas
• Quedas convencionais
• Quedas esportivas (jogo de futebol)
• Acidentes (de carro, de bicicleta, de moto)
• Feridas a faca
• Ferimentos a tiro
• Lesões provocadas por equipamentos (cortantes ou perfurantes)
• Queimaduras (em incêndios ou atividades domésticas)
Autor: Ellen Cristie
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