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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma forcinha para o dia a dia


Ferramentas e órteses de baixo custo dão mais autonomia para pacientes com dificuldades motoras e facilitam a vida de cuidadores

Publicado em 07/01/2010 | ANNA PAULA FRANCO


Papelão, canos de PVC, EVA (etil-vinil-acetato) e outros materiais de baixo custo estão ajudando idosos com dificuldades motoras a conquistar mais autonomia e independência em atividades corriqueiras, como pentear o cabelo, beber água ou se alimentar. O projeto desenvolvido pelas terapeutas ocupacionais Lorena Lopes e Lorena Pimentel, de Natal (RN), usa matéria-prima barata para confeccionar ferramentas e órteses que facilitam a vida dos pacientes e seus cuidadores. Elas criaram cabos universais para escovas de dente, barbeadores, talheres, copos e outros utensílios domésticos que dão mais segurança na hora de manusear os objetos. O PVC é usado para fazer bengalas e andadores, reduzindo o custo de equipamentos que ajudam na mobilidade dos pacientes.

A rotina dos hospitais públicos onde as terapeutas trabalham foi a inspiração para a criação dos adaptadores. “O público é muito carente e não tem dinheiro para comprar equipamentos que os ajudariam nas ações mais simples do dia a dia. Aplicamos técnicas de terapia assistiva para dar mais qualidade de vida a esses pacientes”, diz Lorena Pimentel. As terapeutas produziram as primeiras peças com materiais descartados pelas instituições, como caixas de papelão. “A ideia era baratear as ferramentas disponíveis para dar acesso à tecnologia a mais pessoas”, explica Lorena Lopes.

Não foram só os pacientes que foram beneficiados com o projeto. A produção de órteses foi fundamental também para os cuidadores, que puderam delegar aos idosos algumas pequenas tarefas cotidianas, o que, além de contribuir para a construção da autonomia e garantir alguma independência, ajuda a reduzir a sobrecarga nos cuidados com o paciente.

Para replicar a ideia, as terapeutas promoveram oficinas de terapia assistiva para treinamento de cuidadores dos pacientes. O projeto, que faz parte do Progra ma de Internação Domiciliar da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) do Rio Grande do Norte, foi uma das iniciativas premiadas pelo concurso Talentos da Maturidade do ano passado. Em 2009, foram realizadas duas oficinas, bancadas pelas próprias terapeutas. Com o dinheiro da premiação, pelo menos 50 pes soas por mês receberão o treinamento até o fim deste ano.

Soluções simples, como a almofada de alpiste, para prevenção de escaras – feridas comuns em pacientes acamados por longos períodos –, deram mais conforto a pacientes pobres da periferia de Natal. “A almofada de alpiste tem uma maleabilidade semelhante à da água e não esquenta. Garante mais bem-estar a quem passa o tempo todo deitado, imobilizado”, explicam. A técnica é apropriada a climas quentes e secos, como o do Nordeste. “Não funciona com a umidade”, alerta Lorena Lopes.

Idosos com sequelas de derrames cerebrais, amputados ou com dificuldade na coordenação motora fina puderam, aos poucos, reassumir cuidados com a higiene e a alimentação diária por meio das órteses de baixo custo. “Ao proporcionar mais autonomia e independência ao paciente, há também um ganho no aspecto psicológico. Ele se sente mais confiante e útil, e o cuidador também consegue se organizar melhor no atendimento do idoso em casa”, observa Pimentel. As oficinas de terapia assistiva incluem também orientação sobre como deixar a casa do idoso mais segura, com o uso de barras de apoio, instalação de corrimões e uso de material antiderrapante no piso.

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